quarta-feira, 8 de abril de 2015

Mabi no Chacaltaya - Bolívia: Batismo de Montanha

    Para os montanhistas a primeira vez na escalada é chamada de Batismo de Montanha, poucos escaladores no mundo tiveram a oportunidade de ter sua estreia em uma montanha com mais de cinco mil metros de altitude, ainda mais aos quatro anos de idade.

Para se ter uma ideia a maior montanha da Europa é o monte Elbrus e mede apenas 5.642 metros de altitude. A Cordilheira dos Andes contém as maiores montanhas do mundo fora da Cadeia do Himalaia, que abriga os pontos culminantes do planeta, dentre eles o maior de todos o monte Everest. A cadeia montanhosa dos Andes ocupa toda face oeste da América do Sul e é formada pelo choque de duas placas tectônicas, a Placa de Nazca e a Sul Americana, tendo o monte Aconcágua, a sentinela de pedra, com 6.962 metros como seu ponto mais alto.

A nossa pequena aventureira Emanuele, ainda com 3 anos, já teve experiências em trilhas que muitos adultos tem dificuldade em percorrer. Já havia feito a Trilha das Cachoeiras em Corupá, percorreu as cavernas em Botuverá, trilhas do Parque Estadual do Cânion do Guartelá, Dunas de Ilha Comprida, Buraco do Padre, Cachoeira da Mariquinha, cachoeira do Rio São Jorge e fez a trilha de aproximação no Pico do Marumby, com dez quilômetros, que repetiu quatro vezes em cinco dias, sendo que em um deles subiu o Rochedinho, uma das formações que compõe o Maciço do Marumby.
Apesar da pouca idade, a experiência de Emanuele nesse tipo de ambiente nos deixou seguros que poderia encarar o ambiente Andino com sucesso.  Sua motivação veio em parte do filme Frozen, pois ouvimos como um mantra durante meses ela cantar: Você quer brincar na neve...

Preparar seu equipamento foi uma tarefa um pouco complicada, pois vestimentas e calçados para sua idade são difíceis de encontrar no Brasil, mesmo em lojas especializadas, e a maioria não funciona perfeitamente. Alugar equipamentos é uma boa opção, mas não para este tipo mais individual. O melhor mesmo é comprar o básico, até porque para quem mora no sul são peças que podem ser uteis no inverno.

Outra preocupação era com a adaptação a altitude. A capacidade de adaptar-se a altitude é algo que se pode melhorar com o treino de resistência, mas todavia, é uma capacidade orgânica muito individual. Você pode ter pessoas com muito treino e resistência em baixa altitude mas que não se adaptam bem nas grandes elevações, e o oposto também pode ocorrer, onde uma pessoa com menor resistência acaba se adaptando melhor ou com mais rapidez. Os primeiros dias em grandes altitudes costumam ser bastante desconfortáveis, as pessoas sentem dor de cabeça, náuseas e um profundo cansaço, mesmo ao fazer as tarefas mais simples. Costuma se dizer que andar cem metros acima dos cinco mil metros, equivale a correr mil metros ao nível do mar. O Mal de Atitude é conhecido na língua Aimará, nativa dos povos andinos, como “Soroche”. A doença de altura se manifesta rapidamente, podendo incapacitar uma pessoa em poucos minutos, reduzindo sua capacidade motora, minando sua resistência, podendo evoluir para um quadro grave de enfisema pulmonar ou hipóxia e até mesmo a morte. O único tratamento é administrar oxigênio suplementar, colocar a pessoa em uma câmara hiperbárica ou simplesmente levar o indivíduo para uma menor altitude.

Pode parecer um absurdo que pessoas enfrentem tal adversidade conscientemente, com risco de morte, mas, mais pessoas morrem todo ano praticando modalidades como futebol, que teoricamente são muito mais seguras que a escalada. É como pensar em viagens de avião e de ônibus, quase todos os dias ocorrem acidentes com ônibus nas estadas do mundo, e ninguém dá muita importância, mas os poucos aviões que sofrem desastres viram notícias de projeção mundial.

A Cordilheira dos Andes atravessa diversos países, mas escolhemos a Bolívia para apresentar esse maravilhoso mundo a Emanuele. A região apresenta inúmeras características peculiares que a tornam um lugar muito interessante de se visitar, a começar pela diversidade ambiental, pois em um pequeno pais podemos passar por ambientes como, selva amazônica, pantanal, desertos de sal, areia, o lago mais alto do mundo, vulcões ativos e claro as gigantescas montanhas nevadas. Além da diversidade ambiental temos a cultural, evidente nas vestimentas típicas usadas pelo povo e o seu modo de vida, que conserva inúmeros traços da herança deixada pelos Incas, Aimarás, Quéchuas, Guaranis e outros povos que habitaram as Américas milhares de anos antes da colonização europeia. Nesse país ainda se fala a língua Aimará, Quéchua, Guarany, algumas línguas de tribos amazônicas e claro o espanhol. 
              
Mabi na Praça de Santa Cruz de la Sierra
  Quando se viaja por terra pela Bolívia partido da fronteira com o Mato Grosso, ou Mato Grosso do Sul inicialmente não vemos muitas diferenças entre nosso país e o vizinho. E regiões de fronteira costumam ser um tanto bagunçadas, e porque não dizer, muito feias. Como quem visita Ciudad del Este no Paraguai, pode pensar que todo o país é um desastre, mas não é nada disso não. Partindo da fronteira atravessamos uma região de pantanal, muito plana, o Chaco Boliviano; seguindo em direção a Santa Cruz de la Sierra passamos por San José de Chiquitos, uma paisagem que lembra muito a região de Chapada dos Guimarães, com algumas formações rochosas que se destacam, como El Diente del Diablo.
               
     
 Na fronteira entre Corumbá e Puerto Quijaro, onde escolhemos para atravessar, é necessário fazer o tramite migratório no lado brasileiro e boliviano, do lado do Brasil é rápido para os brasileiros. Há muitos imigrantes ilegais bolivianos tentando atravessar, então se você furar a fila ninguém vai se manifestar com medo de ser “notado”. Não me envergonho de confessar que usamos este subterfugio para acelerar o processo. Preenchido a ficha de imigração se atravessa a fronteira a pé mesmo caminhando uns duzentos metros. Ao chegar na Oficina de migracion descobrimos uma outra vantagem de se viajar com crianças, famílias tem a preferência, então o que levaria horas levou apenas alguns minutos. Feito a parte legal rumamos para tomar uma condução até o terminal rodoviário, pois sabíamos que os trens só partem pela manhã e já era mais de meio dia.

Primeiro contato com a comida local foram os sorvetes, Emanuele aproveitou e tratou de saborear uns três tipos diferentes, muito bons, que não existem no Brasil. Achamos engraçado a marca dos gelados, Cabrera, que por acaso o logotipo fazia parecer ao longe que estava escrito sorvetes cobrero. De lá partimos em ônibus para Sato Cruz, uma cidade muito parecida com Cuiabá, com exceção da parte central, com ruas que formam anéis e um casario colonial espanhol bem preservado, no centro há varias praças igrejas e museus que valem a pena ser visitados. Chegando lá passeamos pelo centro, fizemos cambio de Reais em Bolivianos e tratamos de procurar algo para comer. Manu provou sucos que são vendidos em garrafas de vidro, que à primeira vista parecem refrigerantes; e comeu algumas Salteñas, que lembram as Fogaças paulistas. Nós preferimos uma refeição, logo descobrimos uma curiosidade, todas as mesas trazem um pequeno pote com molho picante. Molho muito forte, uma colher de chá no prato basta para torna-lo um prato de sopa num pote de lava incandescente; e para ficar mais interessante o molho causa um efeito que lhe deixa tonto, como se estivesse embriagado por uma bebida alcoólica. Após voltamos a explorar o local, e quando cansados, notamos várias pessoas passando o tempo na praça central e decidimos fazer o mesmo. A Manu aproveitou, havia uma verdadeira reunião de crianças bolivianas correndo atrás das “palomitas” na praça e as alimentando. Ela logo estava enturmada. Incrível como apesar do idioma diferente, as crianças tem a capacidade de se comunicar, se entender. Ela passou um bom tempo brincando com crianças de várias idades, nós não entendíamos muito os assuntos compartilhados ali por elas, mas elas riam a valer!
Mabi e uma nova amiga com as palomas
             
     Rumamos finalmente para La Paz, Manu descobriria sua comida boliviana preferida, o Cuñapê, espécie de pão de queijo devorado por ela as dezenas. Andar de ônibus na Bolívia é uma roleta russa, a maioria dos carros é comprado de empresas brasileiras, o problema é que a maior parte das companhias de transporte não possuem equipamento para fazer a manutenção dos banheiros, então acabam retirando os reservatórios e sistema hidráulicos. Se precisar ir ao toalete vai ter uma visão privilegiada do asfalto e ainda sentir um frescor ao sentar-se no Inodoro. Com a Manu não teve contratempo, pois as distancias mais longas percorríamos a noite e ela ia dormindo, como o anjinho que é!

Seguindo pela estrada após passar por Cochabamba a paisagem começa a mudar drasticamente. Inicia-se a subida do Altiplano Boliviano chegando a passar dos quatro mil e quinhentos metros de altitude, depois retornando a casa dos três mil. Nesse ponto Manu viu pela primeira vez a tão falada neve, que cobria os campos à beira da estrada.

Começam a aparecer casas de tijolos crus, rebanhos de lhamas, alpacas, plantações de Quiñua e os campesinos em trajes típicos, com seus chapeuzinhos cobrindo as orelhas, os Chuios; as mulheres, as chamadas Cholas, com suas enormes tranças negras uma de cada lado da cabeça, vestidos coloridos com anáguas e seus Aguaios, grandes bolsas feitas com uma única peça de tecido, onde carregam mantimentos, lenha, crianças e todo tipo de material.

Não tarda as montanhas despontarem no horizonte, com todo seu esplendor. Seus cumes nevados brilhando como pontas de prata sobre a rocha negra. Dentre elas se destaca o monte Ilimani, que nos diz que a cidade de La Paz está próxima. Ao chegar a paisagem impressiona, imaginem uma grande cratera com uma cidade incrustada no seu interior, e ainda o monte Ilimani ao fundo para complementar.

Os declives na cidade são tão acentuados que a prefeitura instalou um sistema de teleféricos para fazer o transporte público das partes baixas para as partes altas e vice versa. O cheiro nas ruas é muito característico, misturando ervas, tempero e o sempre presente cheiro de frango frito.


   
Fiquei maravilhada com o fato de que na Bolívia, há grande oferta de produtos artesanais e em natura. Não procure um mercado cheio de produtos industrializados como os brasileiros, pois são raros. Desde objetos, roupas a comida, tudo parece ser feito com a mínima utilização de máquinas. Alimentos como arroz, macarrão, sal, açúcar, batata, etc., são vendidos em pequenas lojas, a granel.

As ruas no setor antigo, são organizadas por semelhanças nos tipos de produtos oferecidos, há ruas que possuem quase que só lojas de roupas, outra apenas eletrodomésticos, alimentos e assim por diante. Lojas de joias produzidas com prata e pedrarias locais que deixariam qualquer mulher com os olhos brilhando são vistas com frequência. Roupas e outros acessórios manufaturados por Cholas sentadas nas calçadas. Mas o mais surpreendente foi o câmbio que realizamos com uma delas, (pois a cotação oferecida por elas é bem mais lucrativa do que a das casas especializadas), quando acertado os valores, eis que a Chola tira de baixo de sua saia, dois montes enooormes de notas de reais e notas de bolivianos. Sendo que ela trabalhava também com Dólar, Soles, Pesos e Euros, isso fez com que eu me perguntasse quantos compartimentos e sortilégios de objetos haviam ocultos naquelas saias gigantes.


 
Pegamos um hostal na calle Sagarnaga, bem no centro histórico da cidade e providenciamos o transporte que nos levaria no outro dia a montanha. A montanha Shacaltaya já fora a mais alta estação de esqui do mundo, mas com o aquecimento global a neve quase desapareceu de suas encostas nos últimos vinte anos. Esta foi a montanha escolhida, até porque foi a única em que nos permitiram pernoitar com uma criança.




Ao amanhecer tomamos um micro bus que havíamos contratado, levando todo material de montanha. O ônibus seguiu por uma estrada poeirenta, estreita, e que por muitas vezes atravessava desfiladeiros de centenas de metros de altura. O caminho foi ficando cada vez mais sinuoso e atravessando vales mais profundos. Chegando mais próximo do nosso destino a sensação era de que o veículo iria despencar de tão estreitos e acidentados que eram os caminhos. Medo...

O transporte parou a cerca de três quilômetros da estação de esqui onde passaríamos a noite acampados. Haviam mais algumas pessoas conosco, uma garota que acabara de descer do ônibus aparentemente escorregou no gelo e caiu em uma poça de água que se formara a beira da estrada, como ela não tinha roupas para trocar decidiu ficar no ônibus e aguardar o grupo retornar, pois o mesmo faria apenas uma caminhada de alguns minutos e seguiria para outro destino. Mas acho que ninguém aguenta estar em um lugar tão majestoso e não sair para explorar um pouquinho, mesmo com os pés e pernas congelando decidiu subir até a estação de esqui.
Começamos a caminhada, Emanuele seguia saltando pela neve enquanto seu papai e eu íamos lentamente carregados com o equipamento. Demoramos mais de uma hora para subir aquele trecho, pois era apenas o segundo dia que estávamos na altitude e não estávamos nem um pouco aclimatados, processo que leva no mínimo dez dias para ocorrer, mas não tínhamos tempo.

Ao chegar na estação estávamos bem cansados, mesmo assim chegamos antes do grupo que veio conosco, que subia sem bagagem alguma. Todos estávamos começando a sentir o mal de altitude, então recorremos ao remédio natural já conhecido pelos incas a muito tempo, o chá de Coca, que preparei com o fogareiro que havia levado. Sempre que mencionamos a Coca alguém até mesmo por preconceito nos recrimina. Mas a Coca em natura não tem nada a ver com a cocaína, produto da qual é matéria prima, que para ficar pronta passa por dezenas de processos químicos.


O chá de coca ou mate de coca é muito popular na região e é tradicionalmente consumido por pessoas de todas as idades e no pais é reconhecido seu poder medicinal; sendo um dos melhores anti-inflamatórios conhecidos, além de ser útil para dores de cabeça, enxaqueca e como antidepressivo, dentre outras aplicações. A Emanuele não chegou a tomar esse chá, a danadinha nem precisou! Mas para nós adultos foi muito bom, cessando em parte os efeitos da altitude e tendo efeito logo que ingerido.


O guarda parques no indicou onde armar a barraca, e assim que fizemos preparamos uma refeição quente para amenizar o frio intenso que se fazia já ao final da tarde. Dormimos cedo aquela noite e pudemos presenciar um dos céus mais limpos e estrelados que jamais havíamos visto.

Acordamos com o clarear do dia, a barraca e os sacos de dormir aguentaram bem o frio. Mesmo não tendo nevado a noite, o teto da barraca amanheceu coberto de gelo. Caminhamos pelas proximidades da estação e aproveitamos a manhã para aclimatar um pouco mais, o ponto onde estávamos estava a cerca de cinco mil metros e a tarde subiríamos até o cume que fica a trezentos e cinquenta metros mais acima. Acabamos por verificar nessa caminhada, que as botas, minha e da Emanuele não eram tão boas como o fabricante prometia.

Almoçamos e a tarde fizemos a empreitada mais difícil ao galgar os últimos trezentos e cinquenta metros até o cume da montanha. Equivalente a subir três morros e meio do Atalaia empilhados, aqui na nossa região, só que partindo de cinco mil metros. A total falta de tempo para se aclimatar nos deixou bem extenuados, mas Emanuele parecia não sentir tanto. Pensávamos que iria ser mais difícil para ela, e no entanto, nos surpreendeu.
Ao retornar passando pela estação tivemos uma má noticia, pois tínhamos planos de ficar mais um ou dois dias na montanha, mas o guarda parques disse que recebeu ordem de retornar a cidade para resolver alguns assuntos e por esse motivo as visitas e a permanência na montanha ficaria vedada por dois dias, infelizmente forçando-nos a regressar com o mesmo transporte que o levaria mais tarde. Desmontamos o acampamento a contra gosto e nos preparamos para o retorno, deixando o boneco de neve que tínhamos programado para o próximo dia para outra ocasião, assim como se arriscar no snowboard, como havíamos planejado.

Apesar desse contratempo foi uma ótima experiência e pudemos constatar que as crianças, ao menos a Manu, se dá muito bem no ambiente de montanha, sendo uma experiência muito prazerosa e inesquecível. Ela voltou com inúmeras histórias para contar! Haja tempo para escutar...

O retorno também foi muito bom, ela conheceu mais algumas crianças durante o retorno. Nos hotéis, acabou aprendendo um pouco de espanhol, mesmo não sendo necessário, pois a linguagem da brincadeira parece universal como já mencionei. Havia diversão para ela em todos os lugares que passávamos. Nos sentimos mais seguros com esta experiência, e cientes que ela pode enfrentar desafios ainda muito maiores e já estamos programando-os.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Viagens de Fusquinha: O Começo...

No verão de 2014, ganhamos como presente de casamento do meu sogro um Fusquinha marrom, ano 73. Confesso que nas primeiras vezes que andei nele não senti muita confiança naquele carrinho de 40 anos de idade, ainda mais quando meu marido decidiu fazer uma viagem com ele, a princípio de mais ou menos 500 Km, partindo de Ponta Grossa para Curitiba e de lá para o Pico do Marumby na Serra do Mar, isso descendo pela famosa Estrada da Graciosa, sendo que depois retornaríamos para Ponta Grossa.
Nosso Fusquinha 73
                No dia da partida ganhamos mais um passageiro, um sobrinho que foi com a gente, totalizando 4 passageiros, eu, Renato meu marido, o sobrinho Lucas e Emanuele nossa filha com 3 anos na época.

Mabi na Oficina
                Meu sogro utilizou o fusquinha durante 39 anos sem parar, fazendo pescarias, carregando cargas diversas, como porcos, galinhas e todo sortílego de traquitanas. Então imagina a quantidade de sujeira que saiu dele quando resolvemos lavar ele antes da viagem.
                Com uns 30 Kg a menos de sujeira e uns 200 a mais de carga saímos pela manhã com destino a Curitiba, como foi a primeira vez que nos andávamos por um longo tempo com ele logo descobrimos que estava com um defeito. Um pouco antes do primeiro pedágio ele ficou fraquinho quase não andava mais. Paramos no acostamento e o Renato saiu com uma chave de fenda na mão, abriu a tampa do motor e logo gritou lá de traz... Liga aí!!! E milagrosamente o carrinho ligou e ficou ótimo, o Renato voltou pra dentro dele e rumamos para Curitiba.
                Passamos pelo centro da Cidade e depois do GPS pregar algumas peças resolvemos fazer do jeito antigo e perguntar o caminho. Rumamos então pela Regis Bitencourt até a entrada da Graciosa. A Estrada da Graciosa é um dos 3 caminhos originais utilizados pelos Portugueses para conseguir ir do litoral até o interior do Paraná, cruzando até hoje a intransponível Serra do Mar.

Os outros caminhos são a Trilha da Graciosa e o Caminho do Itupava, este último ladrilhado com rochas irregulares ainda no século XVI. Estes caminhos já existiam todos na época da colonização portuguesa, foram apenas reaproveitados, por eles. E segundo historiadores fazem parte de uma malha viária antiga utilizada por povos nativos, como os Guaranis e até mesmo pelos Incas, caminhos que ligando-se ao caminho do Peabiru integravam o sul do Brasil com a região da capital Inca na época, Cusco, somando mais de 30.000 km de caminhos originais.
A Estrada da Graciosa possui cerca de 30 km sendo que cerca de 15 km ainda mantem o pavimento original de rochas poliédricas, conhecido como paralelepípedo, instalado em 1873. Seu trajeto é bem sinuoso, possuindo curvas bem fechadas e leito estreito sem acostamento. Sendo considerada ainda mais difícil de se conduzir por ela do que outra estrada famosa, a da Serra do Rio do Rastro.
Chegamos na entrada da estrada por volta das 4 horas da tarde e paramos em uma das inúmeras lanchonetes a beira da estrada que prometem um belo pastel feito na hora. De fato são enormes e deliciosos, vale a pena a parada, depois de uma bela boquinha começamos a descida enfim. Pegamos um dia sem chuva, o que é raro no verão serrano, o início da descida é suave e com asfalto, o clima ameno e o ar da montanha nos faz abrir as janelas para aproveitar bem a brisa.
Logo começa o trecho de paralelepípedo, agora mais estreito e com as curvas mais fechadas. O fusquinha começou a trepidar todo, parecia que ia desmontar. Tirando o medo do fusquinha estragar novamente ou de cair num dos penhascos de 300 metros, foi uma descida bem tranquila. Ao longo da estrada paramos em alguns mirantes de onde podem se ver os maiores picos da região. Paramos em alguns dos 7 recantos, um deles o da Mãe Catira, onde compramos um pouco de balas de banana, e a famosa Pinga de Morretes.
Já quase no final da estrada faltando cerca de 10 km para a cidade de Morretes, o fusca parou de acelerar, e o Renato me olhou com aquela cara de ops...
Era o cabo do acelerador que havia arrebentado e por azar era algo que não tínhamos sobressalente. O Renato desceu novamente com a chave de fenda e apertou o parafuso da marcha lenta, deixando o carro somente acelerado, e mais uma vez partimos. Lembro dele ter falado: “Se ver algum fusca parado por ai vamos parar e ver se tem um cabo”. Dito e feito. Mais adiante vimos um fusca parado em frente a uma casa, paramos perguntamos sobre o cabo. O senhor que nos atendeu falou que era pra olhar em outro fusca que tinha parado no fundo do quintal, que se tivesse o cabo poderia retirar. Para nossa sorte havia o cabo, demorou uns 5 minutos pra retirar, mais uns 15 para instalar no carro.
Chegamos em Morretes por volta das 19 horas, e havia apenas um mercado aberto, compramos algumas coisas e iniciamos a segunda empreitada do dia, tentar achar um lugar pra passar a noite. Recorremos as pousadas locais mais a maioria estava lotada ou o preço estava fora do nosso orçamento. Enfim fui perguntar sobre campings ao atendente de uma barraca de lanches, e ele ofereceu seu sítio para passarmos a noite, o rapaz chegou a ir com seu carro para que nós o seguíssemos até o local que ficava a uns 7 km do centro.
Mabi e Eu

Ele nos deixou lá, mas o cenário estava mais para Bruxas de Blar com uma pitada de The Walking Dead. Esperamos o cidadão ir embora e decidimos partir procurar outro local. Ufa...que alivio, mas de repente cof cof. O fusquinha começa a tossir e falhar novamente, e mais estranho era que passava em um buraco e ficava ruim, depois passava em outro e ficava bom novamente.

Assim foi até acharmos um camping, acabamos voltando para o final da Graciosa, em Porto de Cima, bem na entrada para o Pico do Marumby, o lugar tinha banheiro, chuveiro e um teto para armar a barraca embaixo. A noite foi bem tranquila dormimos bem, apesar dos Funks dos vizinhos. Ao acordar arrumamos as bagagens para ir e quando fomos ligar o fusca, nada. O fusquinha ligava, funcionava um pouco, mas quando tentava acelerar o motor morria.
Eis que surge do nada um cidadão cambaleante, bêbado de cair, e disse que ia consertar o fusca. Pediu pra ver nossas ferramentas e começou; tira platinado, lixa platinado, coloca no ponto, olha o carvão do distribuidor, troca o carvão, lixa o rotor, troca a bobina, até dá umas mordidas para amassar o condensador e finalmente!!!!!!
Nada, nadinha, continua igual. O bebum senta olha, o Renato traz uma latinha de cerveja, até que o cidadão coloca a mão no carburador e diz.. que  M... olha aqui, tá frouxo!!! O duto de admissão tá frouxo, vou pegar um pito 10!!! Ele vai até seu carro e volta com o tal pito 10, aperta quatro parafusos e pronto, o fusquinha ronca como roncava em 1973!! Milagre!!!! mais três latinhas e fomos embora felizes da vida. Ficamos devendo uma ao desconhecido e uma vela a Santo Onofre, padroeiro dos bêbados.
Neste dia subimos até o posto de polícia no caminho do Marumby, onde acabamos ficando três dias, que é outra história. O fato é que o fusca ficou tão bom que decidimos fazer um tour pelo litoral paranaense, e assim fizemos de pronta a ponta desde Pontal do Sul até Garuva, parando um pouquinho nas principais praias. Subimos a serra do mar voltando para Curitiba e decidimos dar mais uma esticadinha na viagem, até Ilha Comprida em SP. Passamos no mercado abarrotamos o fusca com suprimentos para mais duas semanas e partimos saindo já a noite de Curitiba. Alguns poucos quilômetros e o sono começou a bater, decidimos parar e esperar amanhecer antes de enfrentar a Serra do Azeite, foi no pedágio mesmo, paramos e tiramos uma soneca no carro.
Chegamos em Ilha Comprida na casa da família no mesmo dia, e lá ficamos por dez dias disfrutando dos eventos e praias locais. O legal da Ilha é que na temporada sempre tem muitos Shows gratuitos na praia, conseguimos ver algumas apresentações, como da Banda Blitz, que foi bem legal e do NXzero, que o Renato classificou como “o mais pior de ruim” de todos que já viu...
Show da Blitz

Depois de um período na ilha voltamos pelo interior de SP. Tivemos outro susto quando o fusquinha voltou a falhar, dessa vez o parafuso do pé do carburador que desatarraxou e caiu. Paramos em uma oficina e fomos atendidos por um japonês, que começou a retirar uma duas três peças gigantes do motor, lembro uma vez que o mecânico tirou uma pecinha do tamanho duma caixa de fósforos de outro carro nosso e o preço foi um absurdo, então pensei essa quantidade de peças vai ser um horror.  Mas por fim era só um parafuso, ele colocou tudo de volta e deu o valor do serviço: R$ 15,00..... uuuuufa.
Prosseguimos passando por Presidente Prudente, Castro no Paraná, Ponta Grossa e retornando para Itajaí pela BR-101, totalizando mais de 3000 Km rodados com o fusquinha, fora os custos normais da viagem o total com a manutenção do fusqueta, foi de 15 pilas, mais quatro latas de cerveja.

Depois desta que foi a primeira viagem aprendemos o que fazer com o carrinho que nunca mais deu nenhum susto, e já fizemos muitas outras viagens com ele e outras estão programadas...

Você é Mochileiro ou Turista?




Algum desavisado poderia responder que tanto faz, quem viaja por prazer é turista e pronto, ou que se o turista comprar uma mochila, colocar ela nas costas e for viajar, se torna um mochileiro.
Na realidade não é nada assim, são dois estilos de viajantes totalmente diferentes. O termo backpacker (mochileiro),  surgiu nos EUA e define um tipo de viajante independente, que viaja sem ajuda de agências de viagem.
A maioria das pessoas quando pensa em viajar logo pensa em contratar os serviços de um agente de turismo, fechar um pacote que inclua tudo, passagens, hospedagem e passeios no local. A primeira vista parece a maneira mais lógica e segura de se viajar a passeio, mas na pratica não é bem assim.
Em primeiro lugar podemos destacar o aumento significativo do custo, e são diversas as táticas adotadas pelas agências para elevar os preços, geralmente de três vezes no mínimo para o mesmo serviço.
Por exemplo, para comprar uma passagem de trem, o agente aborda o cliente ainda no hotel dizendo que não haverá mais passagens para determinado dia, então lhe cobra muitas vezes o valor para lhe vender a passagem, que na verdade a própria pessoa poderia comprar em um guichê na estação ou pela internet. O mesmo ocorre com a compra de entradas, para parques naturais, locais históricos ou outros locais interessantes à visitação.
Além do preço exorbitante, o cliente ainda corre o risco de fechar um pacote e não ter acesso a todos os itens inclusos pelos quais pagou, ou ainda ficar atrelado a um roteiro fixo, que no decorrer da visita se descobre menos interessante que outro que poderia fazer por conta própria.
Renato - Machu Picchu
Outro ponto importante é que o mochileiro geralmente viaja sozinho, o que para turistas comuns parece um absurdo e muito perigoso é na verdade um das melhores formas de submergir em uma cultura diferente, principalmente quando se viaja ao exterior. Pois se viajamos em grupo acabamos falando a língua nativa, e quando é necessário falar com os locais alguém mais extrovertido sempre acaba tomando a frente. Quando com guias interpretes a situação fica pior ainda, pois o viajante perde talvez a melhor parte de visitar outro pais, que é aprender uma língua estrangeira.
Renato - Bolívia
Viajar sozinho também é relativo, pois quem já teve esse tipo de experiência sabe que no decorrer da viagem acabam se formando as vezes grandes grupos que passam a viajar juntos. Grupos que se formam com viajantes que estão geralmente viajando na mesma situação. O que pode proporcionar momentos muito interessantes e divertidos, onde pessoas de diversas partes do mundo, se envolvem em conversas onde se usam as vezes palavras de três quatro idiomas diferentes na mesma frase, mas todos acabam se entendendo. Imagine explicar uma expressão que em outro idioma não faz o menor sentido, com certeza rende conversas muito engraçadas.

Seja qual for seu estilo, viajar ainda é uma das melhores coisas que se pode fazer na vida, aprender coisas que não estão nos livros e ter experiências que jamais teria no conforto do seu lar. E como disse um grande navegador, Amir Klink, viajar é a melhor maneira de descobrir que tudo que nos falaram sobre outros lugares estava errado.

Viajando com Crianças para o Exterior

Viajar com os pequenos é uma maravilha! As férias ficam ainda mais incríveis quando estamos com eles…
Ver o sorriso em seus lábios, presenciar suas descobertas, observar seus primeiros contatos com um idioma diferente, são momentos que guardamos para sempre.
Viajar com os filhos e poder mostrar a eles um pouquinho deste mundo tão incrível é sempre uma experiência inesquecível para qualquer pai ou mãe que amam viver com o pé na estrada. Mas é preciso se organizar com antecedência e estar atento a alguns detalhes para que tudo ocorra bem durante a viagem e os pequenos aproveitem o máximo possível suas primeiras aventuras e descobertas por esse mundo afora. 
Em primeiro lugar, se a viagem for para o exterior, é preciso providenciar o passaporte dos pequenos. Alguns países não exigem a apresentação do passaporte, basta que o visitante tenha a carteira de identidade brasileira (RG) dentro do prazo de validade de dez (10) anos. É o caso dos países do Mercosul, como Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. Então, se você está pensando em visitar algum país vizinho do Brasil, não precisa se preocupar com passaporte.
Fronteira Brasil - Bolívia


1. como tirar o passaporte

Mas se os seus planos de viagem são para outros países, então você precisará solicitar a emissão do passaporte da criança. Para isso, deve acessar o site da Polícia Federal e seguir as instruções para dar entrada no documento. Você precisará pagar a GRU e fazer o agendamento. O site é simples, dá todas as informações de forma bem clara e objetiva, e tudo é feito de maneira rápida. No dia do agendamento, pai e mãe do pequeno precisam estar presentes e, na ausência de um dos dois, o genitor ausente deve preparar um formulário próprio com firma reconhecida em cartório ou então uma procuração específica, dando autorização para o responsável presente resolver tudo sozinho. A criança também precisa estar presente no dia marcado para dar entrada no passaporte.
Feito isso, é só aguardar o dia marcado para pegar o documento. Ele fica pronto em mais ou menos dez dias úteis. É rapidinho.

2. autorização de viagem internacional

Se você está programando uma viagem para a família toda, sua documentação já está ok. Mas se está planejando viajar sozinho com as crianças, então ainda será preciso preencher o Formulário Padrão de Autorização de Viagem Internacional. Preencha dois formulários, porque um ficará retido com a Polícia Federal no aeroporto, no momento do embarque, e o outro você levará durante sua aventura. Este formulário também precisa de firma reconhecida em cartório. Por isso, reserve um tempinho antes de sua viagem para resolver com calma toda essa parte burocrática, mas indispensável.

3. vistos

Documentação pronta! O que ainda pode faltar? Se a viagem será para um país que exija um visto, você precisará ainda agendar com o consulado do país que vai visitar, o que é feito através do site do próprio consulado. Faça isso com antecedência, porque nem sempre os consulados têm muitas vagas disponíveis para os agendamentos… e você não quer ficar nervoso antes de uma viagem tão especial com os filhotes, não é? Resolva tudo com o máximo de antecedência possível.

4. seguro viagem

É muito importante fazer um seguro viagem, para ter cobertura internacional caso você ou um dos seus filhos tenha algum problema de saúde por lá. Claro que todo seguro é feito para não ser usado… bem, pelo menos é assim que desejamos que seja, não é? Mas estar seguro e coberto em qualquer lugar do mundo nos dá uma tranquilidade tão grande que torna a viagem bem mais agradável. JAMAIS viaje sem seguro, principalmente para as crianças.
Com tudo preparado é só aproveitar!


http://www.turistaprofissional.com/2013/08/31/dicas-de-viagem-com-criancas-para-o-exterior/